quinta-feira, 11 de junho de 2020

A Solenidade de Corpus Christi na Ótica Franciscana

Imagem: Sou Catequista

Por Frei Ronaldo, nosso Assistente Espiritual.



Corpus Christi, ou Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo como conhecemos hoje, é uma das datas mais comemoradas pelos cristãos católicos como uma maneira de homenagear o Sacramento da Eucaristia, ápice e centro da Vida da Igreja.
Segundo algumas fontes, esta comemoração foi estabelecida pela própria Igreja no século XII, influenciada pelo Milagre Eucarístico de Bolsena, Itália. O Papa Urbano VI foi que instituiu uma data celebrativa, litúrgica, na qual se comemorava solenemente a instituição da Eucaristia. Logo, esta celebração se espalhou por todo mundo.
A solenidade de Corpus Christi está intimamente ligada a celebração da Páscoa, sendo comemorada 60 dias após a mesma, sempre em uma quinta-feira. Para podermos viver em profundidade esta celebração, é necessário sentirmos o nexo entre a Quinta-feira Santa e a Quinta-feira de Corpus Christi, o prolongar-se deste contexto pascal é essencial para podermos aurir o verdadeiro valor espiritual desta celebração. Na Quinta-feira Santa celebramos a instituição dos Sacramentos da Ordem e da Eucaristia (o Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor), o mandamento do Amor, no qual Cristo se doa e se faz alimento para saciar nossa fome de amor, nossa fome de Deus e ao mesmo tempo através dos Sacramentos, ali instituídos, ele universaliza a sua missão e presença no mundo a través da ação da Igreja.
Para nós franciscanos esta Solenidade, nos enche de terna reverencia pois nos apresenta um motivo a mais para mergulharmos no amago da Espiritualidade Seráfica; Francisco de Assis em seu tempo, e a sua maneira, manteve todo respeito, veneração e carinho pela Eucaristia e pelo Sacerdócio.
Em sua primeira admoestação, refletindo sobre este sublime mistério da kénosis de Cristo, lemos:
“Ele se humilha todos os dias, tal como na hora em que descendo de seu trono real para o seio da Virgem vem diariamente a nós sob a aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote”(Adm 1,16-18).
Sim, aqui poderíamos refletir sobre o Sacramento da Eucaristia intimamente ligado ao Mistério da Encarnação, duas formas diferentes, mas profundamente reais utilizadas por Jesus para se encarnar em nossa humanidade e deixar-nos eternamente sua presença divindade.
Na Carta a toda Ordem, Francisco mostra-se arrebatado pela contemplação do Mistério Eucarístico:
 “Pasme o homem todo, estremeça a terra inteira, rejubile o céu em altas vozes quando, sobre o altar, estiver nas mãos do sacerdote, o Cristo, Filho de Deus vivo! Ó grandeza maravilhosa, ó admirável condescendência, ó humildade sublime, ó humilde sublimidade! O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, se humilha a ponto de se esconder, para nosso bem, na modesta aparência de pão… Nada de vós retenhais para vós mesmos, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá! ”(CtOr 26-27).

A Kénosis de Cristo, sua paixão e morte é atualizado e vivenciado novamente na Eucaristia. A Eucaristia e o Evangelho compõem o núcleo central da meditação e da contemplação de Francisco. Destes dois polos do Único Mistério de Amor de Cristo, Francisco deduz toda a sua vida espiritual; do significado da verdadeira pobreza à ecologia; passando pela reconciliação total do Ser Humano consigo mesmo e com as realidades circunstantes. Este aspeto constitutivo da experiência mística de Francisco é tão fundante da Vida Cristã, que se expressa de modo concreto e visível na piedade popular, sobretudo hoje, através dos tapetes e enfeites belissimamente prepara para acolher e honrar “Cristo Eucarístico”. Este evento atrai e unifica em um belíssimo mosaico não só os múltiplos movimentos e pastorais da Igreja com seus temas diversos e caros à comunidade cristã, mas também a esperança e os anseios da sociedade como um todo. Expressão de como a Eukharistía (Ação de graças) pode e deve ser o ponto de encontro para todas as raças, povos e línguas. E porquê não ser, também, o ponto de encontro de todas as religiões.


Com esta breve reflexão gostaria de abraçar a todos vocês, queridos irmãos e irmãs, e desejar uma celebração de Corpus Christi verdadeiramente revigorante na fé!

Em Cristo e em Francisco!
Frei Ronaldo Gomes da Silva OFMConv.