quarta-feira, 27 de março de 2019

Os 400 Anos da Fraternidade São Francisco da Penitência



“E depois que o Senhor me deu Irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia Viver segundo a forma do santo Evangelho.” (Testamento de São Francisco) 


No dia 23/03, sábado, aconteceu a celebração eucarística referente aos 400 anos da Fraternidade São Francisco da Penitência, da Ordem Franciscana Secular (OFS), presidida por nosso Arcebispo Dom Orani.

Irmãos e irmãs de várias fraternidades estavam presentes, inclusive: a Ministra Nacional da OFS, Maria José; o Ministro do Regional Sudeste 2, Marco Antônio, a Ministra da Fraternidade Valéria da Costa Pinheiro. E também o Ministro Provincial da Província da Imaculada Conceição Frei César Külkamp; o assistente da Fraternidade Frei Estêvão Ottenbreit; o guardião do Convento Santo Antônio Frei José Pereira; o Ministro Provincial da Província Nossa Senhora dos Anjos Frei Luiz Carlos Siqueira (OFMCap); Irmãs Clarissas do Mosteiro Nossa Senhora dos Anjos (OSC) e autoridades civis.

Mesmo com a grandiosidade da data – quatro séculos de presença franciscana -, a Celebração foi simples, mas cheia de significados e devotamento. Nove irmãos da Fraternidade fizeram a renovação da profissão da OFS. “Renovamos o nosso compromisso de vida evangélica segundo a Regra da Ordem Franciscana Secular até ao fim de nossos dias. Concedei-nos também que vivamos sempre em harmonia com os nossos irmãos e que demos testemunho aos mais novos deste tão grande dom de Vós recebido, o dom da vocação franciscana. Assim nos tornaremos testemunhas e instrumentos da missão da Igreja, no meio dos homens, anunciando o Cristo com a vida e a palavra”, rezaram os professos com velas acesas nas mãos. [¹]

Dom Orani enfatizou, na sua homilia, exatamente essa promessa que fizeram como irmãos leigos e irmãs leigas, recordando que no ano passado a Igreja celebrou o Ano do Laicato. “E nós estamos justamente hoje, aqui, no Rio de Janeiro, comemorando 400 anos de uma Fraternidade leiga da Ordem Franciscana Secular, que é a São Francisco da Penitência, onde leigos e leigas exercem o protagonismo. Embora tenham assistência dos frades e a oração das Clarissas, como leigos e leigas estão presentes na sociedade e levam o carisma franciscano não só aqui no Rio de Janeiro mas em tantas cidades onde a Ordem Franciscana Secular se faz presente”, observou o Cardeal, recordando que, no tempo do Brasil Império, muitas pessoas da família imperial ingressaram na OFS. [¹]

A história desta fraternidade começou quando um casal de portugueses Luís de Figueiredo e Antônia Carneiro, irmãos da Ordem Terceira de Lisboa, procurou os frades franciscanos do Convento Santo Antônio. Ali construíram a capela em terreno doado pelos frades, onde teve início às atividades, no dia 20 de março de 1619, da Fraternidade Secular. Nesses quatro séculos, grandes obras foram realizadas, como a igreja dedicada a São Francisco das Chagas, o asilo para pessoas idosas, o hospital e o cemitério. Mas a obra maior, segundo o assistente espiritual, Frei Estêvão Ottenbreit, é a herança franciscana: “Por muitos anos, ou melhor, por séculos, os irmãos da Fraternidade buscaram serem seguidores de Jesus Cristo, imitando a São Francisco de Assis no seu amor para com Deus e para com todas as criaturas”.[²]

Foi uma alegria imensa presenciar este momento solene e conhecermos de perto um pouco mais da história da OFS no Brasil e com sentimento de profunda gratidão por tão precioso Dom concedido pela misericórdia do Altíssimo. Esta celebração dos 400 anos é, além de uma confirmação de fé, uma confirmação de Amor ao Evangelho.



Paz e bem!
Sandra Regina de Oliveira OFS 


[1] - Quatro séculos de Paz e Bem no Largo da Carioca - via Franciscanos.org.br
[2] - Fraternidade Franciscana Secular de São Francisco da Penitência celebra 400 anos - via Franciscanos.org.br

sábado, 16 de março de 2019

Encontro do Primeiro Distrito - 2019

Tema: Campanha da Fraternidade - Fraternidade e Políticas Públicas

Cuia com essência de verbena - por Sandra R Oliveira


Neste sábado dia 16/03/19 tivemos na Paróquia São Francisco de Assis, no Rio Comprido, o encontro do primeiro distrito.

O coordenador do primeiro distrito, Moacir Nobrega, iniciou o encontro com oração e uma breve introdução remetendo à importância do encontro para os irmãos se conhecerem e que o franciscanismo tem um peso enorme na reconstrução não somente da igreja mas do mundo.

Em seguida Moema iniciou a partilha sobre a campanha da fraternidade como uma ajuda para reflexão. Falou de unidade na diversidade e da Amazônia, nos trazendo uma essência de verbena em uma cuia (foto) que foi partilhada entre os irmãos presentes.

"Tempo de quaresma é um tempo muito especial, muito propício. Jesus nos chama todo dia a caminhar, a olhar o mundo com olhos de misericórdia e de amor, que podemos fazer isso através das obras de misericórdia."

"Quaresma também é um tempo favorável para sair da alienação existencial (Papa Francisco)."

"Mas o que seria ser alienado? Seria estar fora. A Fraternidade nos livra da alienação e a Campanha da Fraternidade ajuda a libertar da alienação, aproveitando o tempo da Quaresma (tempo propício)."


Política

"A Política (pólis) está em qualquer lugar. Não está em um partido ou um determinado local. Não se poderia dizer "não gosto de política" pois isso seria alienação (estar fora). É importante estar atento."


Público x Privado

Nos remeteu às diferenças entre público e privado e respectivos paradoxos.

"O Privado refere-se a uma parte (fechado) que existe dentro do público. Não existe alguém que seja sozinho, fechado em si mesmo. Exemplificou que as redes sociais são exposições do privado (privacidade exposta ao público) e que o público tem sido privatizado para interesse de poucos - corrupção."


Bem Comum

"Bem comum é tanto para o público quanto para o privado. Cada um de nós precisa desenvolver-se no que puder para esse aspecto."

Exemplo: "Saúde e educação deve ter esse controle".

"Quando o bem comum não está estabelecido o que prevalece é a ganância."


Estado

"Estado é quem ordena, organiza.  Legislativo cria leis; executivo governa e organiza; e judiciário averigua, julga.


Sociedade - povo - cidadão

"Mesmo estando doente, é a única que pode dar solução. A solução não virá dos privilegiados."


Política não é igual a futebol e nem religião

"É importante debater questões políticas. Não se trata de preferências individuais mas da busca do bem comum."


Diferenças

"Quando a diferença é acolhida de forma fraterna e amorosa há um crescimento. Quando se acolhe o olhar do outro ganha-se a oportunidade de conhecer outro ponto de vista."


Cristão - Boa Nova

"Ninguém é obrigado a ser cristão, mas quem quer ser cristão tem um ponto de partida a ser seguido. São Francisco foi o que melhor acolheu esse chamado (ouviu, viveu e atuou no mundo). Não podemos ficar alineados, acomodados. Que cada franciscano e franciscana seja uma água boa, levando a boa nova."

"Estamos vivendo um tempo de graça na igreja. E quando o Papa Francisco nos pede 'Rezem por mim' ele pede 'Rezem comigo'."

"O mundo não é um hospício. Cada uma no seu quadrado não salva ninguém. A fraternidade e a comunhão sim trazem salvação."


Evangelho

"Não podeis servir a dois senhores (Lc 16). O capital gerindo o mundo é satânico. O capital deve servir ao bem comum."


Debate entre grupos

Os irmãos se reuniram em grupos para debate sobre o texto do Frei Vitório "Indignação Profética".


Missa

Após as conclusões nos reunimos para Santa Eucaristia na paróquia, presidida por Frei Donil.



Paz e bem!
Texto/Adaptação: Sandra Regina de Oliveira OFS
Fotos: Sandra e Moacir Nobrega













































sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Santo Franciscano: São Boaventura de Meaco




Mártir japonês, terceiro franciscano (+1597). Canonizado no dia 8 de junho de 1862 por Pio IX.



Nasceu no Japão em data ignorada. Filho de pai cristão e de mãe pagã. Foi batizado ainda criança, mas, por influência de sua mãe foi obrigado a frequentar cultos budistas. Esta dualidade seguiu toda a sua fase de crescimento e educação. Por essa razão levou, por vinte e seis anos, uma vida dissoluta, sem rumo e de descaminhos.

Com a chegada dos religiosos vindos das Filipinas, Boaventura é apresentado novamente ao cristianismo e os franciscanos revelam os seus pecados. Este, arrependido, atira-se ao chão e pede perdão a Deus e aos irmãos que o fizeram ver a verdade.

No primeiro domingo após o retorno à fé cristã, Boaventura vai à Missa vestindo um saco, com a cabeça coberta com cinza e uma corda no pescoço para pedir perdão por tantos anos afastado da fé. Todos que frequentavam a Igreja de Santa Maria dos Anjos ficaram admirados e ao mesmo tempo compadecidos pela grandeza do ato daquele cristão.

Como prova de seu arrependimento pediu para ser admitido e vestir o hábito da Terceira Ordem Franciscana. Como sinal de sua conversão, quis se chamar Boaventura. Assim como o Doutor São Boaventura foi para a Ordem Seráfica e para a Igreja uma “boa ventura”, assim o novo Boaventura devia ser para nascente Igreja e para todo o Japão.

Daquele momento em diante não mais se separou das missões e dos religiosos franciscanos. Foi um grande catequista.

Foi preso e teve a sua orelha esquerda cortada e, em seguida colocado em cortejo até a chegada a Nagasaki, local onde foi crucificado, no dia 05 de fevereiro de 1597.



Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola. (via franciscanos.org.br)
Adaptação/Grifos: Sandra Regina de Oliveira OFS
 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Papa cita São Francisco de Assis no encerramento da visita



O estádio Zayed, em Abu Dhabi, recebeu milhares de fiéis para a Missa com o Papa Francisco num momento culminante para a comunidade católica na Península Arábica. O local, com capacidade para receber 45 mil pessoas, ficou pequeno para a presença de tantos fiéis: caldeus, coptas, greco-católicos, greco-melquitas, latinos, maronitas, sírio-católicos, siro-malabarenses e siro-malancareses, tanto que foram distribuídos cerca de 135 mil bilhetes para que a cerimônia fosse acompanhada do lado de fora, por telões. As autoridades locais informaram que no total estavam presentes à celebração (dentro e fora do estádio), cerca de 180 mil pessoas.

O convite que fez a este “pequeno rebanho” de cristãos nos Emirados Árabes Unidos é o de continuar a ser um oásis de paz, de mansidão, e de misericórdia. Porque é bem-aventurado quem responde com mansidão às acusações, não quem agride ou quer subjugar o outro. É bem-aventurado quem considera os outros como irmãos, não quem vê somente inimigos.

Papa Francisco cita Francisco de Assis, que instruía seus irmãos que partiam para terras sarracenas, pedindo a eles para não entrarem em lutas nem disputas. “Gosto de citar São Francisco, quando deu instruções aos frades sobre o modo como se apresentarem aos sarracenos e não-cristãos. Escreveu ele: «Que não entrassem em lutas nem disputas, mas se mantivessem sujeitos a toda a criatura humana por amor de Deus e confessassem que eram cristãos» (Regra não Bulada, XVI). Nem lutas nem disputas: naquele tempo em que muitos partiam revestidos de pesadas armaduras, São Francisco lembrou que o cristão parte armado apenas com a sua fé humilde e o seu amor concreto. É importante a mansidão: se vivermos no mundo à maneira de Deus, tornar-nos-emos canais da sua presença; caso contrário, não daremos fruto”, disse o Papa.

Em um tempo em que, também hoje, muitos vestem armaduras, talvez virtuais, o Papa recorda que o cristão parte “armado” somente com sua “fé humilde e seu amor concreto.” Porque ele vive apenas disso. E ele sabe que somente por meio deste testemunho se anuncia o Evangelho hoje.

Ao cristão não é pedido para construir grandes obras ou para realizar gestos fulgurantes, extraordinários, sobre-humanos. O testemunho passa pela extraordinariedade do ordinário. É graças à santidade da vida cotidiana que, sem sinais extraordinários, acontece o mais surpreendente dos milagres. Assim o cristianismo floresce, se comunica por osmose, sem necessidade de estratégias de marketing, de maquinações midiáticas, de torrentes de palavras ou de habilidades como super-homens.



Eis a homilia do Santo Padre na íntegra:


“Felizes: é a palavra com que Jesus começa a sua pregação no Evangelho de Mateus. E é o refrão que Ele repete hoje, como se quisesse antes de mais nada fixar no nosso coração uma mensagem basilar: se estás com Jesus, se gostas – como os discípulos de então – de escutar a sua palavra, se procuras vivê-la cada dia, és feliz. Não serás feliz, mas és feliz: aqui está a primeira realidade da vida cristã. Esta não aparece como uma lista de prescrições exteriores para se cumprir, nem como um conjunto complexo de doutrinas para se conhecer. Primariamente, não é isso, mas saber que somos, em Jesus, filhos amados do Pai. É viver a alegria desta bem-aventurança, é compreender a vida como uma história de amor: a história do amor fiel de Deus, que nunca nos abandona e quer fazer comunhão connosco sempre. Eis o motivo da nossa alegria, uma alegria que nenhuma pessoa no mundo nem nenhuma circunstância da vida pode tirar-nos. É uma alegria que dá paz mesmo na dor, que já agora nos faz saborear a felicidade que nos espera para sempre. Amados irmãos e irmãs, na alegria de vos encontrar, esta é a palavra que vim dizer-vos: Felizes!

Embora Jesus designe felizes os seus discípulos, todavia não deixa de surpreender o motivo de cada uma das Bem-aventuranças. Neles, vemos uma inversão do pensar comum, segundo o qual são felizes os ricos, os poderosos, aqueles que têm sucesso e são aclamados pela multidão. Para Jesus, ao contrário, felizes são os pobres, os mansos, os que permanecem justos, mesmo à custa de fazerem má figura, os perseguidos. Quem tem razão: Jesus ou o mundo? Para compreender, vejamos como viveu Jesus: pobre de coisas e rico de amor, curou muitas vidas, mas não poupou a sua. Veio para servir e não para ser servido; ensinou que não é grande quem tem, mas quem dá. Justo e manso, não opôs resistência e deixou-Se condenar injustamente. E, assim, Jesus trouxe o amor de Deus ao mundo. Só assim derrotou a morte, o pecado, o medo e o próprio mundanismo: unicamente com a força do amor divino. Peçamos hoje, aqui juntos, a graça de voltar a descobrir o encanto de seguir Jesus, de O imitar, de nada mais procurar senão a Ele e seu amor humilde. Com efeito, é na comunhão com Ele e no amor pelos outros que está o sentido da vida na terra. Acreditais nisto?

Vim também para vos agradecer pelo modo como viveis o Evangelho que ouvimos. Diz-se que, entre o Evangelho escrito e o Evangelho vivido há a mesma diferença que existe entre a música escrita e a música tocada. Vós aqui conheceis a melodia do Evangelho, e viveis o entusiasmo do seu ritmo. Formais um coro que engloba uma variedade de nações, línguas e ritos; uma diversidade que o Espírito Santo ama e quer harmonizar cada vez mais para fazer uma sinfonia. Esta jubilosa polifonia da fé é um testemunho que dais a todos e que edifica a Igreja. Impressionou-me aquilo que uma vez me disse D. Hinder: não só ele se sente vosso Pastor, mas também vós, com o vosso exemplo, fazeis muitas vezes de pastor para ele.

Mas, viver como «felizes» e seguir o caminho de Jesus não significa estar sempre alegres. Quem está aflito, quem padece injustiças, quem se prodigaliza como pacificador sabe o que significa sofrer. Com certeza não é fácil, para vós, viver longe de casa e talvez sentir, além da falta das afeições mais queridas, a incerteza do futuro. Mas o Senhor é fiel e não abandona os seus. A propósito, pode ajudar-nos um episódio da vida do Abade Santo Antão, o grande iniciador do monaquismo no deserto. Deixara tudo pelo Senhor, e encontrava-se no deserto. Aqui, durante um bom período de tempo, viveu mergulhado numa áspera luta espiritual que não lhe dava tréguas, assaltado por dúvidas e obscuridades e ainda pela tentação de ceder à nostalgia e suspiros pela vida passada. Quando depois de tanto tormento o Senhor o consolou, Santo Antão perguntou-lhe: «Onde estáveis? Porque não aparecestes antes para me libertar dos sofrimentos?» Então ouviu distintamente a resposta de Jesus: «Eu estava aqui, Antão» (Santo Atanásio, Vita Antonii, 10). O Senhor está perto. Confrontados com a provação ou um período difícil, pode acontecer de pensar que estamos sozinhos, mesmo depois de ter passado muito tempo com o Senhor; nesses momentos, porém, ainda que Ele não intervenha imediatamente, caminha ao nosso lado e, se continuarmos a avançar, o Senhor abrirá um caminho novo. Pois Ele é especialista em fazer coisas novas, sabe abrir caminhos mesmo no deserto (cf. Is 43, 19).

Amados irmãos e irmãs, gostaria ainda de vos dizer que viver as Bem-aventuranças não requer gestos fulgurantes. Olhemos para Jesus: não deixou nada escrito, não construiu nada de imponente. E, quando nos disse como viver, não pediu para erguermos grandes obras ou nos salientarmos realizando feitos extraordinários. Uma única obra de arte, possível a todos, nos pediu para realizarmos: a da nossa vida. Então as Bem-aventuranças são um mapa de vida: não pedem ações sobre-humanas, mas a imitação de Jesus na vida de cada dia. Convidam-nos a manter puro o coração, a praticar a mansidão e a justiça venha o que vier, a ser misericordiosos com todos, a viver a aflição unidos a Deus. É a santidade da vida diária, que não precisa de milagres nem de sinais extraordinários. As Bem-aventuranças não são para super-homens, mas para quem enfrenta os desafios e provações de cada dia. Quem as vive à maneira de Jesus torna puro o mundo. É como uma árvore que, mesmo em terra árida, diariamente absorve ar poluído e restitui oxigênio. Faço votos de que sejais assim, bem enraizados em Jesus e prontos a fazer bem a quem está perto de vós. Que as vossas comunidades sejam oásis de paz.

Por fim, queria deter-me brevemente sobre duas Bem-aventuranças. A primeira: «Felizes os mansos» (Mt 5, 5). Não é feliz quem agride ou subjuga, mas quem mantem o comportamento de Jesus que nos salvou: manso, mesmo diante dos seus acusadores. Gosto de citar São Francisco, quando deu instruções aos frades sobre o modo como se apresentarem aos sarracenos e não-cristãos. Escreveu ele: «Que não entrassem em lutas nem disputas, mas se mantivessem sujeitos a toda a criatura humana por amor de Deus e confessassem que eram cristãos» (Regola non bollata, XVI). Nem lutas nem disputas: naquele tempo em que muitos partiam revestidos de pesadas armaduras, São Francisco lembrou que o cristão parte armado apenas com a sua fé humilde e o seu amor concreto. É importante a mansidão: se vivermos no mundo à maneira de Deus, tornar-nos-emos canais da sua presença; caso contrário, não daremos fruto.

A segunda Bem-aventurança: «Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). O cristão promove a paz, a começar pela comunidade onde vive. No livro do Apocalipse, entre as comunidades a que se dirige o próprio Jesus, acho que há uma parecida com a vossa: a de Filadélfia. É uma Igreja à qual o Senhor – ao contrário do que sucede com quase todas as outras – não censura nada. De facto, ela guardou a palavra de Jesus, sem renegar o seu nome, e perseverou (isto é, caminhou para diante) mesmo nas dificuldades. E há um aspeto importante: o termo Filadélfia significa amor entre os irmãos; o amor fraterno. Então uma Igreja que persevera na palavra de Jesus e no amor fraterno é agradável ao Senhor e produz fruto. Para vós, peço a graça de preservar a paz, a unidade, de cuidar uns dos outros numa bela fraternidade, onde não haja cristãos de primeira classe e de segunda.

Jesus, que vos chama «felizes», vos conceda a graça de caminhardes sempre para diante sem vos desencorajar, crescendo no amor «uns para com os outros e para com todos» (1 Ts 3, 12)”.


Catedral de São José tem elo com o Brasil


A terça-feira do Papa Francisco nos Emirados Árabes Unidos foi dedicada ao encontro do pastor com o seu rebanho. A primeira etapa foi a visita à Catedral São José, na capital Abu Dhabi.

O Santo Padre foi acolhido com grande afeto e comoção por cerca de 300 fiéis. Dom Paul Hinder apresentou ao Papa a comunidade, que por sua vez, ao saudá-la, afirmou que é uma grande alegria para ele visitar as jovens igrejas, como aquela presente nos Emirados, e agradeceu aos fiéis por seu testemunho.

A história desta Catedral está ligada ao Brasil, pois foi o então prefeito de Propaganda Fide, Card. Agnelo Rossi, quem consagrou o local de culto em 1983. A presença da Igreja no país, aliás, é recente e remonta à década de 1960, quando sacerdotes das redondezas se deslocavam a Abu Dabhi para celebrar dentro de residências. A partir dali, a atividade foi adquirindo caráter oficial, até se tornar nos dois Vicariatos no Sul da Arábia. Hoje, 100 nacionalidades frequentam a Catedral, acolhendo cerca de 100 mil paroquianos, atendidos em missas em várias línguas.



Texto e Imagem: Franciscanos.org.br
Adaptação/Grifos: Sandra Regina Oliveira OFS


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Mensagem do Papa para o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais



(2 DE JUNHO DE 2019)

“Somos membros uns dos outros” (Ef 4, 25): 
das comunidades de redes sociais à comunidade humana.




Queridos irmãos e irmãs!

Desde quando se tornou possível dispor da internet, a Igreja tem sempre procurado que o seu uso sirva o encontro das pessoas e a solidariedade entre todos. Com esta Mensagem, gostaria de vos convidar uma vez mais a refletir sobre o fundamento e a importância do nosso ser-em-relação e descobrir, nos vastos desafios do atual panorama comunicativo, o desejo que o homem tem de não ficar encerrado na própria solidão.


As metáforas da rede e da comunidade


Hoje, o ambiente dos mass-media é tão invasivo que já não se consegue separar do círculo da vida quotidiana. A rede é um recurso do nosso tempo: uma fonte de conhecimentos e relações outrora impensáveis. Mas numerosos especialistas, a propósito das profundas transformações impressas pela tecnologia às lógicas da produção, circulação e fruição dos conteúdos, destacam também os riscos que ameaçam a busca e a partilha duma informação autêntica à escala global. Se é verdade que a internet constitui uma possibilidade extraordinária de acesso ao saber, verdade é também que se revelou como um dos locais mais expostos à desinformação e à distorção consciente e pilotada dos factos e relações interpessoais, a ponto de muitas vezes cair no descrédito.

É necessário reconhecer que se, por um lado, as redes sociais servem para nos conectarmos melhor, fazendo-nos encontrar e ajudar uns aos outros, por outro, prestam-se também a um uso manipulador dos dados pessoais, visando obter vantagens no plano político ou econômico, sem o devido respeito pela pessoa e seus direitos. As estatísticas relativas aos mais jovens revelam que um em cada quatro adolescentes está envolvido em episódios de cyberbullying.[1]

Na complexidade deste cenário, pode ser útil voltar a refletir sobre a metáfora da rede, colocada inicialmente como fundamento da internet para ajudar a descobrir as suas potencialidades positivas. A figura da rede convida-nos a refletir sobre a multiplicidade de percursos e nós que, na falta de um centro, uma estrutura de tipo hierárquico, uma organização de tipo vertical, asseguram a sua consistência. A rede funciona graças à comparticipação de todos os elementos.

Reconduzida à dimensão antropológica, a metáfora da rede lembra outra figura densa de significados: a comunidade. Uma comunidade é tanto mais forte quando mais for coesa e solidária, animada por sentimentos de confiança e empenhada em objetivos compartilháveis. Como rede solidária, a comunidade requer a escuta recíproca e o diálogo, baseado no uso responsável da linguagem.

No cenário atual, salta aos olhos de todos como a comunidade de redes sociais não seja, automaticamente, sinônimo de comunidade. No melhor dos casos, tais comunidades conseguem dar provas de coesão e solidariedade, mas frequentemente permanecem agregados apenas indivíduos que se reconhecem em torno de interesses ou argumentos caraterizados por vínculos frágeis. Além disso, na social web, muitas vezes a identidade funda-se na contraposição ao outro, à pessoa estranha ao grupo: define-se mais a partir daquilo que divide do que daquilo que une, dando espaço à suspeita e à explosão de todo o tipo de preconceito (étnico, sexual, religioso, e outros). Esta tendência alimenta grupos que excluem a heterogeneidade, alimentam no próprio ambiente digital um individualismo desenfreado, acabando às vezes por fomentar espirais de ódio. E, assim, aquela que deveria ser uma janela aberta para o mundo, torna-se uma vitrine onde se exibe o próprio narcisismo.

A rede é uma oportunidade para promover o encontro com os outros, mas pode também agravar o nosso auto-isolamento, como uma teia de aranha capaz de capturar. Os adolescentes é que estão mais expostos à ilusão de que a social web possa satisfazê-los completamente a nível relacional, até se chegar ao perigoso fenômeno dos jovens «eremitas sociais», que correm o risco de se alhear totalmente da sociedade. Esta dinâmica dramática manifesta uma grave rutura no tecido relacional da sociedade, uma laceração que não podemos ignorar.

Esta realidade multiforme e insidiosa coloca várias questões de caráter ético, social, jurídico, político, econômico, e interpela também a Igreja. Enquanto cabe aos governos buscar as vias de regulamentação legal para salvar a visão originária duma rede livre, aberta e segura, é responsabilidade ao alcance de todos nós promover um uso positivo da mesma.

Naturalmente não basta multiplicar as conexões, para ver crescer também a compreensão recíproca. Então, como reencontrar a verdadeira identidade comunitária na consciência da responsabilidade que temos uns para com os outros inclusive na rede on-line?


Somos membros uns dos outros


Pode-se esboçar uma resposta a partir duma terceira metáfora – o corpo e os membros – usada por São Paulo para falar da relação de reciprocidade entre as pessoas, fundada num organismo que as une. «Por isso, despi-vos da mentira e diga cada um a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros» (Ef 4, 25). O facto de sermos membros uns dos outros é a motivação profunda a que recorre o Apóstolo para exortar a despir-se da mentira e dizer a verdade: a obrigação de preservar a verdade nasce da exigência de não negar a mútua relação de comunhão. Com efeito, a verdade revela-se na comunhão; ao contrário, a mentira é recusa egoísta de reconhecer a própria pertença ao corpo; é recusa de se dar aos outros, perdendo assim o único caminho para se reencontrar a si mesmo.

A metáfora do corpo e dos membros leva-nos a refletir sobre a nossa identidade, que se funda sobre a comunhão e a alteridade. Como cristãos, todos nos reconhecemos como membros do único corpo cuja cabeça é Cristo. Isto ajuda-nos a não ver as pessoas como potenciais concorrentes, considerando os próprios inimigos como pessoas. Já não tenho necessidade do adversário para me autodefinir, porque o olhar de inclusão, que aprendemos de Cristo, faz-nos descobrir a alteridade de modo novo, ou seja, como parte integrante e condição da relação e da proximidade.

Uma tal capacidade de compreensão e comunicação entre as pessoas humanas tem o seu fundamento na comunhão de amor entre as Pessoas divinas. Deus não é Solidão, mas Comunhão; é Amor e, consequentemente, comunicação, porque o amor sempre comunica; antes, comunica-se a si mesmo para encontrar o outro. Para comunicar connosco e Se comunicar a nós, Deus adapta-Se à nossa linguagem, estabelecendo na história um verdadeiro e próprio diálogo com a humanidade (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 2).

Em virtude de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, que é comunhão e comunicação-de-Si, trazemos sempre no coração a nostalgia de viver em comunhão, de pertencer a uma comunidade. Como afirma São Basílio, «nada é tão específico da nossa natureza como entrar em relação uns com os outros, ter necessidade uns dos outros».[2]

O panorama atual convida-nos, a todos nós, a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade. Por maior força de razão nós, cristãos, somos chamados a manifestar aquela comunhão que marca a nossa identidade de crentes. De facto, a própria fé é uma relação, um encontro; e nós, sob o impulso do amor de Deus, podemos comunicar, acolher e compreender o dom do outro e corresponder-lhe.

É precisamente a comunhão à imagem da Trindade que distingue a pessoa do indivíduo. Da fé num Deus que é Trindade, segue-se que, para ser eu mesmo, preciso do outro. Só sou verdadeiramente humano, verdadeiramente pessoal, se me relacionar com os outros. Com efeito, o termo pessoa conota o ser humano como «rosto», voltado para o outro, comprometido com os outros. A nossa vida cresce em humanidade passando do caráter individual ao caráter pessoal; o caminho autêntico de humanização vai do indivíduo que sente o outro como rival para a pessoa que nele reconhece um companheiro de viagem.


Do like ao amen


A imagem do corpo e dos membros recorda-nos que o uso da social web é complementar do encontro em carne e osso, vivido através do corpo, do coração, dos olhos, da contemplação, da respiração do outro. Se a rede for usada como prolongamento ou expetação de tal encontro, então não se atraiçoa a si mesma e permanece um recurso para a comunhão. Se uma família utiliza a rede para estar mais conectada, para depois se encontrar à mesa e olhar-se olhos nos olhos, então é um recurso. Se uma comunidade eclesial coordena a sua atividade através da rede, para depois celebrar juntos a Eucaristia, então é um recurso. Se a rede é uma oportunidade para me aproximar de casos e experiências de bondade ou de sofrimento distantes fisicamente de mim, para rezar juntos e, juntos, buscar o bem na descoberta daquilo que nos une, então é um recurso.

Assim, podemos passar do diagnóstico à terapia: abrir o caminho ao diálogo, ao encontro, ao sorriso, ao carinho… Esta é a rede que queremos: uma rede feita, não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres. A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos gostos [«like»], mas na verdade, no «amen» com que cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros.

Vaticano, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2019.

Franciscus



[1] Para circunscrever o fenómeno, será instituído um Observatório internacional sobre cyberbullying, com sede no Vaticano.

[2] Grandes Regras, III, 1: PG 31, 917. Cf. Bento XVI, Mensagem para o XLIII Dia Mundial das Comunicações Sociais (2009).


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

São Paulo Ibaraki - Mártir da terceira ordem



Mártir japonês da Terceira Ordem (+1597). Canonizado por Pio IX em 8 de junho de 1862.


Os missionários franciscanos na efervescência do cristianismo no Japão, difundiram amplamente a Terceira Ordem para melhor formar os colaboradores em seu apostolado. Muitos terciários prestaram generosamente sua colaboração como catequistas, enfermeiros, mestres nas escolas, colaboradores na evangelização.

Deus abençoou esses bravos ajudantes com muitas conversões dos pagãos. Quando aconteceu a perseguição contra os cristãos, eram 170 na Ordem Terceira. Eles declararam veementemente: “Somos todos cristãos, discípulos dos missionários franciscanos; com eles temos aprendido a fé em Cristo e com eles queremos morrer!” Os oficiais do império se limitaram a capturar doze terciários de Meaco, três de Osaka e logo em seguida se uniram a outros dois.

Assim, foram dezessete terciários que derramaram seu sangue pela causa de Cristo, entre eles estava Paulo Ibaraki, nascido no reino japonês e convertido ao cristianismo por São Leão Karasuma. Ele desenvolveu grande parte de suas atividades na região de Meaco, colaborando com os franciscanos na difusão do catolicismo, na assistência aos enfermos, como enfermeiro. Submeteu seu corpo a severas penitências. Em 1596, após um período de tolerância religiosa, Taicosama, imperador, ordenou que fossem presos os franciscanos e seus colaboradores.

Também Paulo foi capturado e condenado à morte. A sentença devia ser cumprida em Nagasaki, mas antes, porém, com seus irmãos, foi submetido a duras provas. Sua orelha esquerda foi cortada, exposto ao desprezo da população e depois conduzido pelas ruas da cidade. Morreu crucificado em 5 de fevereiro de 1597. Os enfermeiros dos hospitais e das clínicas deviam ver em São Paulo Ibaraki seu patrono e protetor na assistência aos enfermos para exercer com amor a profissão e missão junto aos doentes de corpo de alma.



Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Adaptação/grifos: Sandra Regina Oliveira OFS


Festa da Conversão de São Paulo




O martírio de São Paulo é celebrado junto com o de São Pedro, em 29 de junho, mas sua conversão tem tanta importância para a história da Igreja que merece uma data à parte. Neste dia, no ano 1554, deu-se também a fundação da que seria a maior cidade do Brasil, São Paulo, que ganhou seu nome em homenagem a tão importante acontecimento.


Saulo, seu nome original, nasceu no ano 10 na cidade de Tarso, na Cilícia, atual Turquia. À época era um polo de desenvolvimento financeiro e comercial, um populoso centro de cultura e diversões mundanas, pouco comum nas províncias romanas do Oriente. Seu pai Eliasar era fariseu e judeu descendente da tribo de Benjamim, e, também, um homem forte, instruído, tecelão, comerciante e legionário do imperador Augusto. Pelo mérito de seus serviços recebeu o título de Cidadão Romano, que por tradição era legado aos filhos. Sua mãe uma dona de casa muito ocupada com a formação e educação do filho.

Portanto, Saulo era um cidadão romano, fariseu de linhagem nobre, bem situado financeiramente, religioso, inteligente, estudioso e culto. Aos quinze anos foi para Jerusalém dar continuidade aos estudos de latim, grego e hebraico, na conhecida Escola de Gamaliel, onde recebia séria educação religiosa fundamentada na doutrina dos fariseus, pois seus pais o queriam um grande Rabi, no futuro.

Parece que era mesmo esse o anseio daquele jovem baixo, magro, de nariz aquilino, feições morenas de olhos negros, vivos e expressivos. Saulo já nessa idade se destacava pela oratória fluente e cativante marcada pela voz forte e agradável, ganhando as atenções dos colegas e não passando despercebido ao exigente professor Gamaliel.

Saulo era totalmente contrário ao cristianismo, combatia-o ferozmente, por isso tinha muitos adversários. Foi com ele que Estêvão travou acirrado debate no templo judeu, chamado Sinédrio. Ele tanto clamou contra Estevão que este acabou apedrejado e morto, iniciando-se então uma incansável perseguição aos cristãos, com Saulo à frente com total apoio dos sacerdotes do Sinédrio.

Um dia, às portas da cidade de Damasco, uma luz, descrita nas Sagradas Escrituras como “mais forte e mais brilhante que a luz do Sol”, desceu dos céus, assustando o cavalo e lançando ao chão Saulo , ao mesmo tempo em que ouviu a voz de Jesus pedindo para que parasse de persegui-Lo e aos seus e, ao contrário, se juntasse aos apóstolos que pregavam as revelações de Sua vinda à Terra. Os acompanhantes que também tudo ouviram, mas não viram quem falava, quando a luz desapareceu ajudaram Saulo a levantar pois não conseguia mais enxergar. Saulo foi levado pela mão até a cidade de Damasco, onde recebeu outra “visita” de Jesus que lhe disse que nessa cidade deveria ficar alguns dias, pois receberia uma revelação importante. A experiência o transformou profundamente e ele permaneceu em Damasco por três dias sem enxergar, e a seu pedido também sem comer e sem beber.

Depois Saulo teve uma visão com Ananias, um velho e respeitado cristão da cidade, na qual ele o curava. Enquanto no mesmo instante Ananias tinha a mesma visão em sua casa. Compreendendo sua missão, o velho cristão foi ao seu encontro colocando as mãos sobre sua cabeça fez Saulo voltar a enxergar, curando-o. A conversão se deu no mesmo instante, pois ele pediu para ser Batizado por Ananias. De Damasco saiu a pregar a palavra de Deus, já com o nome de Paulo, como lhe ordenara Jesus, tornando-se Seu grande apóstolo.

Sua conversão chamou a atenção de vários círculos de cidadãos importantes e Paulo passou a viajar pelo mundo, evangelizando e realizando centenas de conversões. Perseguido incansavelmente foi preso várias vezes e sofreu muito, sendo martirizado no ano 67, em Roma. Suas relíquias se encontram na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na Itália, festejada no dia de sua consagração em 18 de novembro.

O Senhor fez de Paulo seu grande apóstolo, o apóstolo dos gentios, isto é, o evangelizador dos pagãos. Ele escreveu 14 cartas, expondo a mensagem de Jesus, que se transformaram numa verdadeira “Teologia do Novo Testamento”. Também é o patrono das Congregações Paulinas que continuam a sua obra de apóstolo, levando a mensagem do Cristianismo a todas as partes do mundo, através dos meios de comunicação.



Adaptação/Grifos: Sandra Regina Oliveira OFS
Foto/Imagem: Busca Google

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

"Deus sempre responde à nossa oração", disse o Papa em sua catequese

Vatican Media


Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Podemos estar certos de que Deus responderá. Talvez tenhamos que insistir por toda a vida, mas Ele responderá.”

Dando sequência à sua série de catequeses sobre o Pai Nosso, o Papa falou na Audiência Geral desta quarta-feira sobre a oração perseverante, inspirando-se na passagem de São Lucas 11, 9-13: “Batei e vos será aberto”.

Dirigindo-se aos 7 mil peregrinos presentes na Sala Paulo VI, Francisco começa recordando que o evangelista descreve “a figura de Cristo em uma atmosfera densa de oração. Nele estão contidos os três hinos que marcam ao longo do dia a oração da Igreja: o Benedictus, o Magnificat e o Nunc dimittis”.

“Jesus é sobretudo um orante.”



“Na catequese sobre o Pai Nosso vemos Jesus como orante. Jesus reza", enfatiza o Pontífice. Cada passo na sua vida “é como que movido pelo sopro do Espírito que o guia em todas as suas ações”. E o Papa recorda a Transfiguração, o batismo no Jordão, a intercessão por Pedro. Nas decisões mais importantes – observa - Jesus “retira-se frequentemente para a solidão, para rezar. Até a morte do Messias está mergulhada em um clima de oração, tanto que as horas da Paixão parecem marcadas por uma calma surpreendente.”


Jesus consola as mulheres, reza pelos que o crucificam, promete o Paraíso ao bom ladrão, expira dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”:

“A oração de Jesus parece abranda as emoções mais violentas, os desejos de vingança, reconcilia o homem com seu mais amargo inimigo: a morte.”


Dirigir-se a Deus como Pai


É no Evangelho de Lucas – chama a atenção o Papa – que um de seus discípulos pede que o próprio Jesus os ensine a rezar (...). Também nós podemos dizer isto ao Senhor: ensina-me a rezar, para que também eu possa rezar".

E deste pedido dos discípulos – explica – “nasce um ensinamento bastante extenso, através do qual Jesus explica aos seus com que palavras e com que sentimentos devem dirigir-se a Deus”. E “a primeira parte deste ensinamento é justamente a oração ao Pai (...). O cristão dirige-se a Deus chamando-o antes de tudo de 'Pai'". Nós podemos estar em oração "somente com esta palavra, Pai, e sentir que temos um Pai, não um patrão, nem um padrinho, mas um pai".

Mas neste ensinamento que Jesus dá aos seus discípulos – prossegue Francisco - é interessante insistir em algumas instruções que coroam o texto da oração. Para dar confiança à oração, Jesus explica algumas coisas: “Elas insistem nas atitudes do crente que reza”.

E ilustra isso com “a parábola do amigo inoportuno que vai perturbar toda uma família que dorme, porque de forma inesperada uma pessoa chegou de uma viagem e não tem pão para oferecer a ela. Jesus explica que se ele não se levantar para dar o pão porque é seu amigo, ao menos se levantará por causa da importunação. "Com isto, Jesus quer ensinar a rezar, a insistir na oração". E ilustra também com “o exemplo de um pai que tem um filho faminto: "Qual pai entre vós - pergunta Jesus - se o filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra em vez de peixe?".



A oração sempre transforma a realidade


Com estas parábolas – diz o Papa – Jesus faz entender que Deus responde sempre, que nenhuma oração fica sem ser ouvida, “que Ele é Pai e não esquece seus filhos que sofrem”:

“Certamente, essas afirmações nos colocam em crise, porque muitas das nossas orações parecem não ter resultado algum. Quantas vezes pedimos e não obtemos - todos temos experiência disto - batemos e encontramos uma porta fechada? Jesus recomenda a nós, nesses momentos, para insistir e a não nos darmos por vencidos. A oração sempre transforma a realidade, a oração sempre transforma, sempre, transforma a realidade: se não mudam as coisas à nossa volta, pelo menos muda a nós, muda o nosso coração. Jesus prometeu o dom do Espírito Santo a todo homem e mulher que reza”.



Perseverar na oração, Deus responde sempre


“Podemos estar certos – diz o Francisco - de que Deus responderá. A única incerteza – ressalta - é devida aos tempos, mas não duvidamos que Ele responderá”:

“Talvez tenhamos que insistir por toda a vida, mas Ele responderá. Ele o prometeu: Ele não é como um pai que dá uma serpente em vez de um peixe. Não há nada de mais certo: o desejo de felicidade que todos nós trazemos no coração, um dia se cumprirá. Jesus diz: "Não fará Deus justiça aos seus eleitos, que clamam dia e noite a ele?" Sim, fará justiça, nos escutará. Que dia de glória e ressurreição será!”

“Rezar é desde agora a vitória sobre a solidão e o desespero.”

"É como ver cada fragmento da criação que fervilha no torpor de uma história que às vezes não entendemos o por quê. Mas está em movimento, no caminho, e no final de cada estrada, da coração, de um tempo que estamos rezando, ao fim da vida, há um Pai que espera por tudo e todos com os braços bem abertos. Olhemos para este Pai”.



Grifo: Sandra Regina Oliveira OFS

domingo, 6 de janeiro de 2019

Papa no Angelus: como os Magos, deixemo-nos iluminar pela luz de Jesus

Vatican News

Mariangela Jaguraba/Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano

Após a missa da Solenidade da Epifania do Senhor, celebrada na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (06/01).

Hoje, Solenidade da Epifania do Senhor, é a festa da manifestação de Jesus, simbolizada pela luz. Nos textos proféticos, esta luz é promessa. Promete-se a luz. Isaías, de fato, se dirige a Jerusalém com essas palavras: «Levante-se, brilhe, pois chegou a sua luz, a glória do Senhor brilha sobre você»”, frisou o Pontífice em sua alocução.

Segundo o Papa, “o convite do profeta a se levantar por que vem a luz aparece surpreendente, porque se insere depois do duro exílio e das inúmeras opressões que o povo havia vivido."


Herodes e os escribas têm um coração duro


Este convite, hoje, ressoa também para nós, que celebramos o Natal de Jesus e nos encoraja a deixar-nos alcançar pela luz de Belém. Também nós fomos convidados a não nos deter nos sinais exteriores do acontecimento, mas a recomeçar dele e percorrer em novidade de vida o nosso caminho de homens e fiéis.”


A luz que o profeta Isaías tinha preanunciado, no Evangelho está presente e foi encontrada. Jesus, nascido em Belém, cidade de Davi, veio para trazer a salvação aos próximos e distantes: a todos. O evangelista Mateus mostra diversas maneiras com as quais se pode encontrar Cristo e reagir à sua presença.”

O Papa destacou que “Herodes e os escribas de Jerusalém têm um coração duro, que se obstina e rejeita a visita daquele Menino. É uma possibilidade, fechar-se para a luz. Eles representam os que, também nos nossos dias, têm medo da vinda de Jesus e fecham o coração aos irmãos e às irmãs que necessitam de ajuda. Herodes tem medo de perder o poder e não pensa no verdadeiro bem das pessoas, mas na própria vantagem pessoal. Os escribas e os chefes do povo têm medo porque não sabem olhar além das próprias certezas, não conseguindo assim colher a novidade que está em Jesus.


Magos, abertos à novidade


Bem diferente é a experiência dos Magos. Vindos do Oriente, eles representam todos os povos distantes da fé hebraica tradicional. E mesmo assim, se deixam guiar pela estrela e enfrentam uma longa e arriscada viagem para chegar à meta e conhecer a verdade sobre o Messias. Os Magos estavam abertos à “novidade”, e a eles se revela a maior e mais surpreendente novidade da história: Deus feito homem. Os Magos se prostram diante de Jesus e oferecem dons simbólicos: ouro, incenso e mirra; porque a busca do Senhor implica não somente a perseverança no caminho, mas também a generosidade do coração.”

Por fim, voltam para a sua terra», e diz o Evangelho que eles voltaram “por outro caminho.



Irmãos e irmãs, toda vez que um homem e uma mulher encontra Jesus, muda o caminho, volta para a vida de forma diferente, volta renovado “por outro caminho”. 

"Regressaram “ao seu país” levando dentro de si o mistério daquele Rei humilde e pobre. Podemos imaginar que contaram a todos a experiência vivida: a salvação oferecida por Deus em Cristo é para todos os homens, próximos ou distantes. Não é possível tomar posse daquele Menino: Ele é um dom para todos.”

Deixar-se iluminar pela luz de Jesus


Também nós, façamos um pouco de silêncio em nosso coração e deixemo-nos iluminar pela luz de Jesus que provém de Belém. Não permitamos aos nossos medos de fechar-nos o coração, mas tenhamos a coragem de abrir-nos a esta luz que é mansa e discreta”, disse ainda Francisco.

Então, como os Magos, experimentaremos uma grande alegria que não poderemos manter para nós. Que Nos sustente neste caminho a Virgem Maria, estrela que nos conduz a Jesus, e Mãe que mostra Jesus aos Magos e a todos aqueles que se aproximam dele.”


Apelo em prol dos migrantes


Após a oração mariana do Angelus, o Papa Francisco recordou que há vários dias quarenta e nove migrantes salvos no Mar Mediterrâneo estão a bordo de dois navios de organizações não governamentais, em busca de um porto seguro onde desembarcar.

Faço um apelo aos líderes europeus a fim que demostrem solidariedade concreta a essas pessoas.”


Saudação às Igrejas Orientais


A seguir, Francisco lembrou que algumas Igrejas orientais, católicas e ortodoxas, que seguem o Calendário Juliano, celebrarão o Natal, nesta segunda-feira (07/01).

A elas dirijo minhas cordiais e fraternas saudações no sinal de comunhão entre todos nós cristãos, que reconhecem Jesus como Senhor e Salvador. Um Feliz Natal!

A Epifania é também a Jornada Missionária dos Meninos que este ano convida os jovens missionários a serem “atletas de Jesus”, para testemunhar o Evangelho na família, na escola e nos lugares de diversão.”

O Papa saudou todos os peregrinos, famílias, paróquias e associações provenientes da Itália e outros países.


Valores da Epifania


Uma saudação especial foi dirigida ao cortejo histórico e folclórico que promove os valores da Epifania e que este ano é dedicado à Região de Abruzzo.

Recordou também o cortejo dos Magos que se realiza em muitas cidades da Polônia com uma grande participação de famílias e associações.

Saudou também os músicos da banda que ouviu tocar. “Continuem soando a alegria deste dia da Epifania”, concluiu Francisco, pedindo aos fiéis para não se esquecerem de rezar por ele.


Via: Angelus - Vatican News
Grifos: Sandra Regina Oliveira OFS

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2019




Cidade do Vaticano: "A boa política está ao serviço da paz" é o tema da mensagem do Santo Padre para o 52° Dia Mundial da Paz a ser celebrado em 1° de janeiro de 2019. Eis o texto na íntegra:


A boa política está ao serviço da paz



1. «A paz esteja nesta casa!»

Jesus, ao enviar em missão os seus discípulos, disse-lhes: «Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: “A paz esteja nesta casa!” E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós» (Lc 10, 5-6).

Oferecer a paz está no coração da missão dos discípulos de Cristo. E esta oferta é feita a todos os homens e mulheres que, no meio dos dramas e violências da história humana, esperam na paz.[1] A «casa», de que fala Jesus, é cada família, cada comunidade, cada país, cada continente, na sua singularidade e história; antes de mais nada, é cada pessoa, sem distinção nem discriminação alguma. E é também a nossa «casa comum»: o planeta onde Deus nos colocou a morar e do qual somos chamados a cuidar com solicitude.

Eis, pois, os meus votos no início do novo ano: «A paz esteja nesta casa!»

2. O desafio da boa política

A paz parece-se com a esperança de que fala o poeta Carlos Péguy;[2] é como uma flor frágil, que procura desabrochar por entre as pedras da violência. Como sabemos, a busca do poder a todo o custo leva a abusos e injustiças. A política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição.

«Se alguém quiser ser o primeiro – diz Jesus – há de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Como assinalava o Papa São Paulo VI, «tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade».[3]

Com efeito, a função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para todos aqueles que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele e trabalhar para criar as condições dum futuro digno e justo. Se for implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas, a política pode tornar-se verdadeiramente uma forma eminente de caridade.

3. Caridade e virtudes humanas para uma política ao serviço dos direitos humanos e da paz

O Papa Bento XVI recordava que «todo o cristão é chamado a esta caridade, conforme a sua vocação e segundo as possibilidades que tem de incidência na pólis. (…) Quando o empenho pelo bem comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular e político. (…) A ação do homem sobre a terra, quando é inspirada e sustentada pela caridade, contribui para a edificação daquela cidade universal de Deus que é a meta para onde caminha a história da família humana».[4] Trata-se de um programa no qual se podem reconhecer todos os políticos, de qualquer afiliação cultural ou religiosa, que desejam trabalhar juntos para o bem da família humana, praticando as virtudes humanas que subjazem a uma boa ação política: a justiça, a equidade, o respeito mútuo, a sinceridade, a honestidade, a fidelidade.

A propósito, vale a pena recordar as «bem-aventuranças do político», propostas por uma testemunha fiel do Evangelho, o Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:

Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.

Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.

Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.

Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.

Bem-aventurado o político que realiza a unidade.

Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.

Bem-aventurado o político que sabe escutar.

Bem-aventurado o político que não tem medo.[5]

Cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito. Duma coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras.

4. Os vícios da política

A par das virtudes, não faltam infelizmente os vícios, mesmo na política, devidos quer à inépcia pessoal quer às distorções no meio ambiente e nas instituições. Para todos, está claro que os vícios da vida política tiram credibilidade aos sistemas dentro dos quais ela se realiza, bem como à autoridade, às decisões e à ação das pessoas que se lhe dedicam. Estes vícios, que enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio.

5. A boa política promove a participação dos jovens e a confiança no outro

Quando o exercício do poder político visa apenas salvaguardar os interesses de certos indivíduos privilegiados, o futuro fica comprometido e os jovens podem ser tentados pela desconfiança, por se verem condenados a permanecer à margem da sociedade, sem possibilidades de participar num projeto para o futuro. Pelo contrário, quando a política se traduz, concretamente, no encorajamento dos talentos juvenis e das vocações que requerem a sua realização, a paz propaga-se nas consciências e nos rostos. Torna-se uma confiança dinâmica, que significa «fio-me de ti e creio contigo» na possibilidade de trabalharmos juntos pelo bem comum. Por isso, a política é a favor da paz, se se expressa no reconhecimento dos carismas e capacidades de cada pessoa. «Que há de mais belo que uma mão estendida? Esta foi querida por Deus para dar e receber. Deus não a quis para matar (cf. Gn 4, 1-16) ou fazer sofrer, mas para cuidar e ajudar a viver. Juntamente com o coração e a inteligência, pode, também a mão, tornar-se um instrumento de diálogo».[6]

Cada um pode contribuir com a própria pedra para a construção da casa comum. A vida política autêntica, que se funda no direito e num diálogo leal entre os sujeitos, renova-se com a convicção de que cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que pode irradiar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais. Uma tal confiança nunca é fácil de viver, porque as relações humanas são complexas. Nestes tempos, em particular, vivemos num clima de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, na ansiedade pela perda das próprias vantagens, e manifesta-se também, infelizmente, a nível político mediante atitudes de fechamento ou nacionalismos que colocam em questão aquela fraternidade de que o nosso mundo globalizado tanto precisa. Hoje, mais do que nunca, as nossas sociedades necessitam de «artesãos da paz» que possam ser autênticos mensageiros e testemunhas de Deus Pai, que quer o bem e a felicidade da família humana.

6. Não à guerra nem à estratégia do medo

Cem anos depois do fim da I Guerra Mundial, ao recordarmos os jovens mortos durante aqueles combates e as populações civis dilaceradas, experimentamos – hoje, ainda mais que ontem – a terrível lição das guerras fratricidas, isto é, que a paz não pode jamais reduzir-se ao mero equilíbrio das forças e do medo. Manter o outro sob ameaça significa reduzi-lo ao estado de objeto e negar a sua dignidade. Por esta razão, reiteramos que a escalada em termos de intimidação, bem como a proliferação descontrolada das armas são contrárias à moral e à busca duma verdadeira concórdia. O terror exercido sobre as pessoas mais vulneráveis contribui para o exílio de populações inteiras à procura duma terra de paz. Não são sustentáveis os discursos políticos que tendem a acusar os migrantes de todos os males e a privar os pobres da esperança. Ao contrário, deve-se reafirmar que a paz se baseia no respeito por toda a pessoa, independentemente da sua história, no respeito pelo direito e o bem comum, pela crihistória, no respeito pelo direito e o bem comum, pela criação que nos foi confiada e pela riqueza moral transmitida pelas gerações passadas.

O nosso pensamento detém-se, ainda e de modo particular, nas crianças que vivem nas zonas atuais de conflito e em todos aqueles que se esforçam por que a sua vida e os seus direitos sejam protegidos. No mundo, uma em cada seis crianças sofre com a violência da guerra ou pelas suas consequências, quando não é requisitada para se tornar, ela própria, soldado ou refém dos grupos armados. O testemunho daqueles que trabalham para defender a dignidade e o respeito das crianças é extremamente precioso para o futuro da humanidade.

Um grande projeto de paz


Celebra-se, nestes dias, o septuagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada após a II Guerra Mundial. A este respeito, recordemos a observação do Papa São João XXIII: «Quando numa pessoa surge a consciência dos próprios direitos, nela nascerá forçosamente a consciência do dever: no titular de direitos, o dever de reclamar esses direitos, como expressão da sua dignidade; nos demais, o dever de reconhecer e respeitar tais direitos».[7]

Com efeito, a paz é fruto dum grande projeto político, que se baseia na responsabilidade mútua e na interdependência dos seres humanos. Mas é também um desafio que requer ser abraçado dia após dia. A paz é uma conversão do coração e da alma, sendo fácil reconhecer três dimensões indissociáveis desta paz interior e comunitária:

- a paz consigo mesmo, rejeitando a intransigência, a ira e a impaciência e – como aconselhava São Francisco de Sales – cultivando «um pouco de doçura para consigo mesmo», a fim de oferecer «um pouco de doçura aos outros»;

- a paz com o outro: o familiar, o amigo, o estrangeiro, o pobre, o atribulado..., tendo a ousadia do encontro, para ouvir a mensagem que traz consigo;

- a paz com a criação, descobrindo a grandeza do dom de Deus e a parte de responsabilidade que compete a cada um de nós, como habitante deste mundo, cidadão e ator do futuro.

A política da paz, que conhece bem as fragilidades humanas e delas se ocupa, pode sempre inspirar-se ao espírito do Magnificat que Maria, Mãe de Cristo Salvador e Rainha da Paz, canta em nome de todos os homens: A «misericórdia [do Todo-Poderoso] estende-se de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes (...), lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre» (Lc 1, 50-55).

Vaticano, 8 de dezembro de 2018.


FRANCISCUS

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[1] Cf. Lc 2, 14: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado».

[2] Cf. Le Porche du mystère de la deuxième vertu (Paris 1986).

[3] Carta ap. Octogesima adveniens (14/V/1971), 46.

[4] Carta enc. Caritas in veritate (29/V/2009), 7.

[5] Cf. «Discurso na Exposição-Encontro “Civitas” de Pádua»: Revista 30giorni (2002-nº 5).

[6] Bento XVI, Discurso às Autoridades do Benim (Cotonou, 19/XI/2011).


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