sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Santo Franciscano: São Boaventura de Meaco




Mártir japonês, terceiro franciscano (+1597). Canonizado no dia 8 de junho de 1862 por Pio IX.



Nasceu no Japão em data ignorada. Filho de pai cristão e de mãe pagã. Foi batizado ainda criança, mas, por influência de sua mãe foi obrigado a frequentar cultos budistas. Esta dualidade seguiu toda a sua fase de crescimento e educação. Por essa razão levou, por vinte e seis anos, uma vida dissoluta, sem rumo e de descaminhos.

Com a chegada dos religiosos vindos das Filipinas, Boaventura é apresentado novamente ao cristianismo e os franciscanos revelam os seus pecados. Este, arrependido, atira-se ao chão e pede perdão a Deus e aos irmãos que o fizeram ver a verdade.

No primeiro domingo após o retorno à fé cristã, Boaventura vai à Missa vestindo um saco, com a cabeça coberta com cinza e uma corda no pescoço para pedir perdão por tantos anos afastado da fé. Todos que frequentavam a Igreja de Santa Maria dos Anjos ficaram admirados e ao mesmo tempo compadecidos pela grandeza do ato daquele cristão.

Como prova de seu arrependimento pediu para ser admitido e vestir o hábito da Terceira Ordem Franciscana. Como sinal de sua conversão, quis se chamar Boaventura. Assim como o Doutor São Boaventura foi para a Ordem Seráfica e para a Igreja uma “boa ventura”, assim o novo Boaventura devia ser para nascente Igreja e para todo o Japão.

Daquele momento em diante não mais se separou das missões e dos religiosos franciscanos. Foi um grande catequista.

Foi preso e teve a sua orelha esquerda cortada e, em seguida colocado em cortejo até a chegada a Nagasaki, local onde foi crucificado, no dia 05 de fevereiro de 1597.



Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola. (via franciscanos.org.br)
Adaptação/Grifos: Sandra Regina de Oliveira OFS
 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Papa cita São Francisco de Assis no encerramento da visita



O estádio Zayed, em Abu Dhabi, recebeu milhares de fiéis para a Missa com o Papa Francisco num momento culminante para a comunidade católica na Península Arábica. O local, com capacidade para receber 45 mil pessoas, ficou pequeno para a presença de tantos fiéis: caldeus, coptas, greco-católicos, greco-melquitas, latinos, maronitas, sírio-católicos, siro-malabarenses e siro-malancareses, tanto que foram distribuídos cerca de 135 mil bilhetes para que a cerimônia fosse acompanhada do lado de fora, por telões. As autoridades locais informaram que no total estavam presentes à celebração (dentro e fora do estádio), cerca de 180 mil pessoas.

O convite que fez a este “pequeno rebanho” de cristãos nos Emirados Árabes Unidos é o de continuar a ser um oásis de paz, de mansidão, e de misericórdia. Porque é bem-aventurado quem responde com mansidão às acusações, não quem agride ou quer subjugar o outro. É bem-aventurado quem considera os outros como irmãos, não quem vê somente inimigos.

Papa Francisco cita Francisco de Assis, que instruía seus irmãos que partiam para terras sarracenas, pedindo a eles para não entrarem em lutas nem disputas. “Gosto de citar São Francisco, quando deu instruções aos frades sobre o modo como se apresentarem aos sarracenos e não-cristãos. Escreveu ele: «Que não entrassem em lutas nem disputas, mas se mantivessem sujeitos a toda a criatura humana por amor de Deus e confessassem que eram cristãos» (Regra não Bulada, XVI). Nem lutas nem disputas: naquele tempo em que muitos partiam revestidos de pesadas armaduras, São Francisco lembrou que o cristão parte armado apenas com a sua fé humilde e o seu amor concreto. É importante a mansidão: se vivermos no mundo à maneira de Deus, tornar-nos-emos canais da sua presença; caso contrário, não daremos fruto”, disse o Papa.

Em um tempo em que, também hoje, muitos vestem armaduras, talvez virtuais, o Papa recorda que o cristão parte “armado” somente com sua “fé humilde e seu amor concreto.” Porque ele vive apenas disso. E ele sabe que somente por meio deste testemunho se anuncia o Evangelho hoje.

Ao cristão não é pedido para construir grandes obras ou para realizar gestos fulgurantes, extraordinários, sobre-humanos. O testemunho passa pela extraordinariedade do ordinário. É graças à santidade da vida cotidiana que, sem sinais extraordinários, acontece o mais surpreendente dos milagres. Assim o cristianismo floresce, se comunica por osmose, sem necessidade de estratégias de marketing, de maquinações midiáticas, de torrentes de palavras ou de habilidades como super-homens.



Eis a homilia do Santo Padre na íntegra:


“Felizes: é a palavra com que Jesus começa a sua pregação no Evangelho de Mateus. E é o refrão que Ele repete hoje, como se quisesse antes de mais nada fixar no nosso coração uma mensagem basilar: se estás com Jesus, se gostas – como os discípulos de então – de escutar a sua palavra, se procuras vivê-la cada dia, és feliz. Não serás feliz, mas és feliz: aqui está a primeira realidade da vida cristã. Esta não aparece como uma lista de prescrições exteriores para se cumprir, nem como um conjunto complexo de doutrinas para se conhecer. Primariamente, não é isso, mas saber que somos, em Jesus, filhos amados do Pai. É viver a alegria desta bem-aventurança, é compreender a vida como uma história de amor: a história do amor fiel de Deus, que nunca nos abandona e quer fazer comunhão connosco sempre. Eis o motivo da nossa alegria, uma alegria que nenhuma pessoa no mundo nem nenhuma circunstância da vida pode tirar-nos. É uma alegria que dá paz mesmo na dor, que já agora nos faz saborear a felicidade que nos espera para sempre. Amados irmãos e irmãs, na alegria de vos encontrar, esta é a palavra que vim dizer-vos: Felizes!

Embora Jesus designe felizes os seus discípulos, todavia não deixa de surpreender o motivo de cada uma das Bem-aventuranças. Neles, vemos uma inversão do pensar comum, segundo o qual são felizes os ricos, os poderosos, aqueles que têm sucesso e são aclamados pela multidão. Para Jesus, ao contrário, felizes são os pobres, os mansos, os que permanecem justos, mesmo à custa de fazerem má figura, os perseguidos. Quem tem razão: Jesus ou o mundo? Para compreender, vejamos como viveu Jesus: pobre de coisas e rico de amor, curou muitas vidas, mas não poupou a sua. Veio para servir e não para ser servido; ensinou que não é grande quem tem, mas quem dá. Justo e manso, não opôs resistência e deixou-Se condenar injustamente. E, assim, Jesus trouxe o amor de Deus ao mundo. Só assim derrotou a morte, o pecado, o medo e o próprio mundanismo: unicamente com a força do amor divino. Peçamos hoje, aqui juntos, a graça de voltar a descobrir o encanto de seguir Jesus, de O imitar, de nada mais procurar senão a Ele e seu amor humilde. Com efeito, é na comunhão com Ele e no amor pelos outros que está o sentido da vida na terra. Acreditais nisto?

Vim também para vos agradecer pelo modo como viveis o Evangelho que ouvimos. Diz-se que, entre o Evangelho escrito e o Evangelho vivido há a mesma diferença que existe entre a música escrita e a música tocada. Vós aqui conheceis a melodia do Evangelho, e viveis o entusiasmo do seu ritmo. Formais um coro que engloba uma variedade de nações, línguas e ritos; uma diversidade que o Espírito Santo ama e quer harmonizar cada vez mais para fazer uma sinfonia. Esta jubilosa polifonia da fé é um testemunho que dais a todos e que edifica a Igreja. Impressionou-me aquilo que uma vez me disse D. Hinder: não só ele se sente vosso Pastor, mas também vós, com o vosso exemplo, fazeis muitas vezes de pastor para ele.

Mas, viver como «felizes» e seguir o caminho de Jesus não significa estar sempre alegres. Quem está aflito, quem padece injustiças, quem se prodigaliza como pacificador sabe o que significa sofrer. Com certeza não é fácil, para vós, viver longe de casa e talvez sentir, além da falta das afeições mais queridas, a incerteza do futuro. Mas o Senhor é fiel e não abandona os seus. A propósito, pode ajudar-nos um episódio da vida do Abade Santo Antão, o grande iniciador do monaquismo no deserto. Deixara tudo pelo Senhor, e encontrava-se no deserto. Aqui, durante um bom período de tempo, viveu mergulhado numa áspera luta espiritual que não lhe dava tréguas, assaltado por dúvidas e obscuridades e ainda pela tentação de ceder à nostalgia e suspiros pela vida passada. Quando depois de tanto tormento o Senhor o consolou, Santo Antão perguntou-lhe: «Onde estáveis? Porque não aparecestes antes para me libertar dos sofrimentos?» Então ouviu distintamente a resposta de Jesus: «Eu estava aqui, Antão» (Santo Atanásio, Vita Antonii, 10). O Senhor está perto. Confrontados com a provação ou um período difícil, pode acontecer de pensar que estamos sozinhos, mesmo depois de ter passado muito tempo com o Senhor; nesses momentos, porém, ainda que Ele não intervenha imediatamente, caminha ao nosso lado e, se continuarmos a avançar, o Senhor abrirá um caminho novo. Pois Ele é especialista em fazer coisas novas, sabe abrir caminhos mesmo no deserto (cf. Is 43, 19).

Amados irmãos e irmãs, gostaria ainda de vos dizer que viver as Bem-aventuranças não requer gestos fulgurantes. Olhemos para Jesus: não deixou nada escrito, não construiu nada de imponente. E, quando nos disse como viver, não pediu para erguermos grandes obras ou nos salientarmos realizando feitos extraordinários. Uma única obra de arte, possível a todos, nos pediu para realizarmos: a da nossa vida. Então as Bem-aventuranças são um mapa de vida: não pedem ações sobre-humanas, mas a imitação de Jesus na vida de cada dia. Convidam-nos a manter puro o coração, a praticar a mansidão e a justiça venha o que vier, a ser misericordiosos com todos, a viver a aflição unidos a Deus. É a santidade da vida diária, que não precisa de milagres nem de sinais extraordinários. As Bem-aventuranças não são para super-homens, mas para quem enfrenta os desafios e provações de cada dia. Quem as vive à maneira de Jesus torna puro o mundo. É como uma árvore que, mesmo em terra árida, diariamente absorve ar poluído e restitui oxigênio. Faço votos de que sejais assim, bem enraizados em Jesus e prontos a fazer bem a quem está perto de vós. Que as vossas comunidades sejam oásis de paz.

Por fim, queria deter-me brevemente sobre duas Bem-aventuranças. A primeira: «Felizes os mansos» (Mt 5, 5). Não é feliz quem agride ou subjuga, mas quem mantem o comportamento de Jesus que nos salvou: manso, mesmo diante dos seus acusadores. Gosto de citar São Francisco, quando deu instruções aos frades sobre o modo como se apresentarem aos sarracenos e não-cristãos. Escreveu ele: «Que não entrassem em lutas nem disputas, mas se mantivessem sujeitos a toda a criatura humana por amor de Deus e confessassem que eram cristãos» (Regola non bollata, XVI). Nem lutas nem disputas: naquele tempo em que muitos partiam revestidos de pesadas armaduras, São Francisco lembrou que o cristão parte armado apenas com a sua fé humilde e o seu amor concreto. É importante a mansidão: se vivermos no mundo à maneira de Deus, tornar-nos-emos canais da sua presença; caso contrário, não daremos fruto.

A segunda Bem-aventurança: «Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). O cristão promove a paz, a começar pela comunidade onde vive. No livro do Apocalipse, entre as comunidades a que se dirige o próprio Jesus, acho que há uma parecida com a vossa: a de Filadélfia. É uma Igreja à qual o Senhor – ao contrário do que sucede com quase todas as outras – não censura nada. De facto, ela guardou a palavra de Jesus, sem renegar o seu nome, e perseverou (isto é, caminhou para diante) mesmo nas dificuldades. E há um aspeto importante: o termo Filadélfia significa amor entre os irmãos; o amor fraterno. Então uma Igreja que persevera na palavra de Jesus e no amor fraterno é agradável ao Senhor e produz fruto. Para vós, peço a graça de preservar a paz, a unidade, de cuidar uns dos outros numa bela fraternidade, onde não haja cristãos de primeira classe e de segunda.

Jesus, que vos chama «felizes», vos conceda a graça de caminhardes sempre para diante sem vos desencorajar, crescendo no amor «uns para com os outros e para com todos» (1 Ts 3, 12)”.


Catedral de São José tem elo com o Brasil


A terça-feira do Papa Francisco nos Emirados Árabes Unidos foi dedicada ao encontro do pastor com o seu rebanho. A primeira etapa foi a visita à Catedral São José, na capital Abu Dhabi.

O Santo Padre foi acolhido com grande afeto e comoção por cerca de 300 fiéis. Dom Paul Hinder apresentou ao Papa a comunidade, que por sua vez, ao saudá-la, afirmou que é uma grande alegria para ele visitar as jovens igrejas, como aquela presente nos Emirados, e agradeceu aos fiéis por seu testemunho.

A história desta Catedral está ligada ao Brasil, pois foi o então prefeito de Propaganda Fide, Card. Agnelo Rossi, quem consagrou o local de culto em 1983. A presença da Igreja no país, aliás, é recente e remonta à década de 1960, quando sacerdotes das redondezas se deslocavam a Abu Dabhi para celebrar dentro de residências. A partir dali, a atividade foi adquirindo caráter oficial, até se tornar nos dois Vicariatos no Sul da Arábia. Hoje, 100 nacionalidades frequentam a Catedral, acolhendo cerca de 100 mil paroquianos, atendidos em missas em várias línguas.



Texto e Imagem: Franciscanos.org.br
Adaptação/Grifos: Sandra Regina Oliveira OFS