terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dia de São Pedro de Alcântara

São Pedro de Alcântara
1499-1562
Memória litúrgica : 19 de outubro

 
João, como o santo se chamava antes de ser religioso, nasceu em 1499 em Alcântara, pequena cidade espanhola da Estremadura, nos limites com Portugal. Filho de Alfonso Gavarito e Maria Vilela de  Sanabria.  Terminados seus estudos universitários em Salamanca (1511-15), com 16 anos ingressou na comunidade dos franciscanos descalsos (depois chamados de  Observantes) da localidade de Los Majaretes.

Ao receber  o hábito franciscano, recebeu o nome de Frei Pedro. Depois da profissão, no convento de São Francisco de Belvis, fez os estudos de teologia, mas antes de chegar ao sacerdócio foi encarregado da fundação do convento de Badajoz para o qual foi nomeado superior, como o foi também de outras casas da nova província ibérica de São Gabriel.

Alguns anos depois de sua ordenação sacerdotal (1524), teve licença para viver no retiro ou eremo no Convento de Santo Onofre  dando visível testemunho de  vida orientada para  austeríssima penitência e dura pobreza.  Tinha como motivação o ideal franciscano e o desejo de fazer com que a Ordem voltasse à rigorosa observância da Regra.  Não é de admirar que tenha encontrado encarniçada resistência por parte de muitos de seus confrades, embora ele, severamente rígido para consigo, mostrava-se indulgente para com os outros. De outro lado, nem todos tinham sua têmpera de penitente. A fama de suas virtudes chegou até Portugal e rei João III manifestou o desejo de tê-lo como seu conselheiro.

Eleito superior da Província de São Gabriel, encaminhou  seu projeto de reforma.  Escreveu as Ordinaciones Provinciales que foram aprovadas no Capítulo de Plasencia em 1540.  Só pode colocar esta reforma em prática em 1554 quando o Papa Júlio III  deu-lhe a autorização para viver eremiticamente em Santa Cruz de Cebollas, em Soria.

Mais tarde, por dificuldades sobrevindas dos Observantes temerosos de uma nova cisão na Ordem, e para melhor garantir a aplicação da sua reforma, teve permissão de passar para a obediência dos conventuais, sob a qual ele foi nomeado provisoriamente comissário dos conventos reformados que eram organizados primeiramente em custódia e, depois, em província (1561).

Os Observantes, todavia,  procuraram de todos os meios fazer com que o movimento de reforma promovido pelo santo fosse colocado sob sua jurisdição. Fizeram pedidos e solicitações a Roma e mesmo junto ao Papa Pio IV.   Demoradas e delicadas foram essas tratativas.  Por fim, a reforma passou a ser enquadrada dentro da Ordem dos Frades Menores observantes.  Assim, Frei Pedro e seus confrades da província reformada passaram novamente para a Observância.  A reforma alcantarina encontrou sequazes fora da Espanha, como em outros países da Europa, do Extremo Oriente e da América Latina.

A santidade excepcional de vida de Frei Pedro de Alcântara vem atestada em numerosos escritos. O mais conhecido é certamente o Tratado da Oração e da Meditação (publicado pela Editora Vozes, agora em segunda edição). Uma vez superada a controvérsia a respeito da paternidade da obra por parte de  Frei Pedro, o texto apresenta-se claramente impregnado do espírito franciscano com suas características de simplicidade, afetividade, de concreteza, enquanto desenvolve  interessantes temas doutrinais que não se acham presentes na obra dominicano Luís de Granada a respeito do qual  o Santo havia escrito um obra.  Teresa d’Avila menciona o Tratado em seu Castelo interior. Prova  de  sua boa receptividade são suas numerosissimas edições.  Desse tratado, deve-se destacar, como documento plenamente franciscano e especificamente alcantarino,  o capítulo no qual o santo exalta seu característico culto da cruz, expondo para cada dia da semana uma especial”memória”  da “Santíssima Paixão”.  Atribui-se a Pedro de Alcântara o costume de plantar uma cruz como lembrança de missões pregadas.

O que permanece de extraordinário no Santo é, sem dúvida, o exemplo de sua vida,  sua invencível paciência, seu altíssimo grau de contemplação, de austeridade pessoal, sem deixar de mencionar os dons místicos de que foi agraciado.  Em sua Autobiografia Teresa d’Avila, escreve admirada:  “Grande modelo de virtudes era  Frei Pedro de Alcântara!  O mundo de hoje não é mais capaz de uma tal perfeição. Que coragem deu o Senhor a este santo para que fizesse 47 anos de tão duras penitências”.  Teresa se referia ao pouco tempo consagrado ao sono  e a seus jejuns tão severos!

Além do relacionamento seu com Santa Teresa d’Avila  que o escolheu como diretor espiritual e conselheiro para a reforma carmelitana que empreendia, Frei Pedro teve contactos com outras eminentes personalidades, como São Francisco Borgia (1510-72), terceiro Geral da Companhia de Jesus, ou políticos, como o imperador Carlos V, dito conquistador do mundo ( 1550-1558). Para mostrar como o Santo evitava tudo o que pudesse de alguma forma ferir seu desejo de despojamento e minoridade, conta-se o seguinte episódio (verdadeiro ou lendário):  quando o Imperador o chamou para pedir que fosse seu confessor, o humilde franciscano teria se lançado a seus pés e beijando-lhe a mão, disse:  “Vossa Majestade certamente procurará aceitar a vontade de Deus. Se eu não voltar mais, isto quererá dizer que Deus não quis que eu aceitasse esse encargo”.  E nunca mais apareceu.

Rico de virtudes e de méritos, morreu suavemente em  Arenas de São Pedro, na diocese de Ávila, a 18 de outubro de 1562 com a idade de  63 anos.  Aparecendo a Santa Teresa mostrou a alegria que conquistou na pátria da glória, exclamando: “Ó feliz penitência que me mereceu a glória no paraíso!”

Foi beatificado pelo Papa  Gregório XV a 18 de abril de 1622 e canonizado por Clemente IX em 28 de abril de 1669.

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