sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Carta por ocasião do 8º Centenário da Fundação da Ordem de Santa Clara


No próximo Domingo de Ramos, 17 de abril de 2011, terá início o VIII Centenário da Consagração de Santa Clara na Porciúncula e, de certo modo, o 8º Centenário de fundação da Segunda Ordem Franciscana, a das Irmãs Pobres de Santa Clara. Para celebrar este momento, os Ministros Gerais da Primeira Ordem e da TOR escreveram uma carta, que está na íntegra abaixo, e também para lembrar a celebração da 15ª Jornada Mundial da Vida Consagrada e como preparação para o jubileu das Clarissas.

CONFERÊNCIA DOS MINISTROS GERAIS
DA 1ª ORDEM E DA TOR

CARTA POR OCASIÃO DO OITAVO CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DA ORDEM DAS IRMÃS POBRES DE SANTA CLARA


O Senhor conceda a paz a todas vós, Irmãs Pobres de Santa Clara.

É ainda forte o eco da celebração da fundação da 1ª Ordem Franciscana e agora estamos todos voltados para o ano 2012, para dar graças ao Senhor pelos 800 anos da consagração de Clara na Porciúncula. O acontecimento não é uma comemoração de um passado glorioso, mas um evento em
que se faz memória, com o intuito de “obter também da história ulterior um impulso para renovar a vontade de servir à Igreja.”(1)

Chamadas pelo Espírito a seguir o Cristo pobre, crucificado e ressuscitado, vivendo o santo Evangelho em obediência, sem nada de próprio e em castidade, vós sois guardiãs do carisma clariano, mulheres consagradas que interagem com o mundo, contemplando os sinais que o Espírito
semeia e difunde na historia. Na escuta de Deus, vós falais ainda hoje ao coração dos homens e das mulheres do nosso tempo com a linguagem do amor, cujas palavras se fundam na raiz da existência habitada por Deus.

MANTENHAM FIRME O PONTO DE PARTIDA
Fazer memória da própria vocação é uma ocasião de rever as motivações do sim pessoal a Deus. Relendo a sua história vocacional, retornais ao encontro com o Senhor que aconteceu através da Palavra, de uma pessoa, de um acontecimento, de uma experiência. Após as dificuldades iniciais,
vós decidis seguir Jesus Cristo, deixando-se determinar por Ele e por seu Evangelho. A experiência de Francisco e de Clara as atraiu e, hoje, o sim deles a Cristo se prolonga no tempo através de vós.
Conscientes de que várias vicissitudes favoreceram ou condicionaram a pureza da vossa “Forma de vida”, e que diversas sedimentações seculares transformaram por vezes a intuição original, estamos convencidos de que o aniversário de fundação da vossa Ordem não pode limitar-se a uma simples recordação.

O que queremos celebrar juntos: a recordação de uma regra ou a memória da história de Deus que caminha convosco, perpetuada no tempo e que ainda hoje suscita em vós a paixão para “observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade”? (2) Como trazer novamente à luz, na sua totalidade, a Forma de vida que torna visível e credível a todos que “para nós o Filho de Deus se fez caminho que nos mostrou e ensinou com a palavra e com o exemplo o nosso beatíssimo padre Francisco, o seu verdadeiro e apaixonado imitador”.(3)

Como vós podeis ainda hoje ser, na igreja e para toda a família franciscana, memória viva daquilo que todos nós, como batizados, somos chamados a viver? Sabemos que vós dedicais as melhores energias afim de serem fiéis àquilo que escolheram e prometeram e, justamente por isso, percebemos a urgência de reler junto convosco, neste momento histórico, as coordenadas da vossa vida de Irmãs Pobres colocadas por Deus na Igreja, na Família Franciscana e no mundo.

> PARA VIVER O EVANGELHO...
Em uma sociedade bombardeada por imagens, onde o indivíduo é impulsionado a buscar uma contínua representação de si, vós sois chamadas pelo Espírito a serem um simples sinal da presença de Deus. Sabemos que não é sempre fácil, sobretudo quando isso exige uma continua conversão evangélica da mente, do coração, do comportamento, das estruturas de personalidade, para serem significativas e para não caírem na fácil competição mundana, sem negociar o essencial da vossa
vida.

Enquanto a mensagem comunicada pelo testemunho de vocês é expressa através das estruturas, dos sinais e símbolos, a Regra escrita por Clara pede hoje às suas filhas uma vida evangélica vivida na pobreza sine glossa. Sabemos que nas fraternidades o Espírito de Deus impulsiona a buscar, a
discernir evangelicamente, para manter alerta a atenção e avaliar as estruturas que não permitem o reflexo imediato da presença de Deus. Vós sois, pois, chamadas a reler os sinais e símbolos a fim de que sejam compreensíveis, neste tempo em que tudo é questionável. Também o sagrado, que não remete para a alteridade de Deus, corre o risco de cair na lógica do consumo.

Aos consagrados e consagradas se pede de manifestar o absoluto de Deus. Vós, de um modo particular, sois chamadas a viver uma vida fundada sobre os sinais e os símbolos que não remetem ao vazio de um estéril doutrinamento, ritualismo ou ativismo, mas que saibam conjugar hoje as
raízes do passado e a profecia do futuro: estruturas, sinais e símbolos que simplesmente fazem ver Deus.

Como podeis ser testemunhas da sua presença através da Forma de vida que um dia o Espírito confiou a Clara e que continua a confiar a vocês neste tempo em que parecem faltar os parâmetros mais elementares da existência?

Enquanto o mundo gira vertiginosamente, vós, na estabilidade, manifestais Deus sempre à escuta dos homens e das mulheres do nosso tempo, para amá-los.

Alimentando-se da Palavra de Deus, vós a encarnais no cotidiano através da obediência na fé (4). A fé em Cristo não é um acontecimento adquirido uma vez por todas, mas é um dom do Espírito. Essa fé pede uma educação permanente, e por esta razão é celebrada, professada e vivida. Através do
cuidado na liturgia, vós testemunhais que Deus, o Pai que se faz próximo de toda criatura, chama a humanidade a estar na história, na sua presença. Vós vos tornais, no cotidiano, presença visível da busca do rosto de Deus, como os peregrinos no mundo e os mendigos de sentido.
Se a liturgia dá forma a nossa fé, esta, por sua vez, para ser credível deve encontrar respaldo no cotidiano da vida em nível pessoal e fraterno. Não é suficiente, de fato, pensar que basta crer, é necessário que o Mistério celebrado assuma em cada um e cada uma o rosto de Cristo. Ainda hoje
está presente a idéia da separação entre fé e vida.
Vós nos ajudais a rever as nossas celebrações: o cuidado com a Liturgia das Horas e com a Eucaristia, enquanto constantemente orientado ao louvor de Deus, deve permitir a quem participa experimentar, através da simplicidade clariana, a graça da presença do Senhor ressuscitado.
Deixando-se transformar pelo Espírito e moldar pelo Evangelho, sois mulheres consagradas que se entregam a Deus. Através do exemplo de Francisco e Clara, vós, Irmãs Pobres, conservais, como a Virgem, Aquele que contém cada uma e todas as coisas (5). Testemunhais no silêncio a “contemplação do Cristo do Evangelho, amando-o intensamente, imitando as suas virtudes(6)”.

Vós nos narrais, assim, com a vossa vida aquilo que escutais; aquilo que vedes com vossos olhos, Aquele que contemplais e o que vossas mãos tocam do Verbo da Vida (7). Continuais a anunciar com a vossa existência, vivendo a dimensão mística, que Deus existe, que Deus é amor.(8)

Neste mundo que parece indiferente a Deus, sois chamadas a serem referência da presença do Mistério que tem o rosto do Pai. Somente buscando com paixão o Cristo e seu Reino é que podemos
nos aproximar dos homens e das mulheres do nosso tempo com esperança no coração, conscientes de fazer parte da mesma caminhada. Vós nos fazeis ver a beleza de sentir-nos sempre como pessoas
a caminho, que a cada dia comprometem a vida com Deus na história.

A experiência contemplativa de Clara nos interroga. Assim como ela convida Inês a colocar-se por inteira na imagem de Jesus Cristo (cf.3In 12-13), ainda hoje pede a vós a deixar-se transformar pela contemplação, a doar a vossa existência, na busca incessante de Deus, a fim de libertar-se de tudo o que ocupa o lugar de Deus e de amar até o fim.

Se o hoje de Deus pede aos cristãos de serem adultos na fé, com maior razão a vós, mulheres consagradas, é exigida uma fé adulta, que saiba contar a experiência inédita do encontro com o Senhor, para responder com esperança, em qualquer lugar em que estiverem, às inquietações mais
profundas dos homens e das mulheres do nosso tempo. Somente quem continuamente caminha sob o olhar de Deus pode colocar-se na escuta dos que buscam um sentido para a vida.

Obrigado pela vossa busca incansável de Deus: a liberdade vivida nele é um convite a mergulhar todos os dias no Mistério, a crer que Deus existe, porque o encontraram.

> COMO POBRES…
Nestes tempos em que alguns poucos no mundo navegam na abundância e grande parte das pessoas não tem com o que comer; a vós, Irmãs Pobres de S. Clara, Francisco continua a confiar sua última vontade:

“Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima e perseverar nela até o fim. E rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos o conselho para que vivais sempre nesta santíssima vida e pobreza. E estai muito atentas para, de maneira alguma, nunca vos afastardes dela por doutrina ou conselho de alguém.(9)”

Vós, Irmãs Pobres de S. Clara, sois colocadas por Deus em uma realidade concreta para serem sinais de contradição; não porque defendeis as estruturas, mas porque escolhestes, como pobres, viver a cada dia a radicalidade do Evangelho.

Cada fraternidade se torna sinal alternativo nos lugares de opulência e sinal de esperança entre aqueles que vivem na precariedade, através do testemunho da própria entrega e da confiança no Pai, revelado por Jesus Cristo. Não uma pobreza ideológica ou intelectual, mas um estilo de vida que testemunha a confiança total no Pai, que toma forma no cotidiano da existência. Não faltam, de fato, no mundo algumas experiências de fraternidades que escolhem “testemunhar uma vida extremamente sóbria, para serem solidárias com os pobres e confiarem somente na Providencia,
viver cada dia da Providencia, na confiança de colocar-se nas mãos de Deus(10)”

Não permitais que nada nem ninguém as desviem do seu propósito. Verifiquem, antes, se a diversidade de pensamentos no interior da Ordem se fundamenta na busca conjunta de serem fiéis a Jesus Cristo e ao seu Evangelho, ou se a defesa de estilos de vida não remete mais ao Altíssimo.
Deus continua a chamar alguns para serem profetas, não para auto-promover-se, mas para serem sinais do seu amor, da sua proximidade à humanidade. “O Senhor disse: Eu vi a miséria do meu povo no Egito e ouvi o seu clamor... conheço o seu sofrimento.(11)”

Vós nos falais, a partir de um estilo de vida pobre, sóbrio e humilde, da vossa fé na Providência de Deus: - “A pobreza é o sinal de pertença a Ele, é uma garantia de credibilidade de que o Reino já se faz presente em meio a nós. Um sinal sempre mais convincente aos nossos dias, quando se trata de uma pobreza vivida em fraternidade, com um estilo de vida simples e essencial, expressão de comunhão e de abandono à vontade de Deus(12) “

Vós nos ajudais a degustar a alegria da liberdade porque, contemplando, vocês vêem Deus em cada aspecto da vida. Demonstrais-nos que não seguem as modas de hoje, que não estão em concorrência com o mundanismo, onde as aparências, a auto-exacerbação, individualismo, a auto-referência pretendem desvanecer a obra-prima de Deus. Vós nos contais a sua história com Deus que se nutre do silêncio, da escuta, da profundidade espiritual.
Vivendo na estabilidade, vós nos indicais o que é verdadeiramente essencial, belo, autêntico. Sabemos que Deus é a verdadeira riqueza do coração humano (13) e que a pobreza nos faz livres da escravidão das coisas e das necessidades artificiais para as quais a sociedade de consumo nos empurra: vós nos ajudais a redescobrir que Cristo é o único tesouro pelo qual vale a pena viver verdadeiramente.(14). Para Clara e para Francisco, a “santíssima pobreza” não é simplesmente uma virtude, nem somente uma renúncia às coisas, mas é sobretudo um nome e um rosto: o rosto de Jesus Cristo Pobre e Crucificado (cfr. 2 LAg 19). Para os dois, a contemplação de Cristo pobre não se reduz a uma bela teoria mística do distanciamento do mundo, mas se encarna em uma pobreza real, concreta, essencial.(15) Vejamos o testemunho deles: todos os dois amaram a pobreza para seguir Cristo com dedicação e liberdade total e continuam a ser, também para nós, um convite a cultivar a pobreza interior para crescer na fidelidade a Deus, unindo também um estilo de vida sóbrio e um
desapego dos bens materiais.(16)

Chamadas a seguir, na forma, o Cristo pobre, a abraçar pois a liberdade, deveis encontrar, se necessário, novas formas para exprimi-la (17) com espírito profético, através de «um testemunho mais claro de pobreza pessoal e coletiva [...] (18) », assim como fizeram Francisco e Clara. A inculturação de algumas fraternidades que partilham com os pobres sua vida é algo que às vezes impressiona. Quando partilhais com os que nada possuem, quando escolheis viver do estritamente necessário, quando não acumulais, quando vos confiais à fraternidade, vós fazeis crer na escolha da pobreza, porque viveis a sua fé em Deus Pai que cuida da humanidade.

> EM SANTA UNIDADE
O mundo atual, imerso na aldeia global, arrisca de se tornar um palco cênico, onde todos e, ao mesmo tempo, ninguém se move. A multidão, de fato, arrisca permanecer embriagada na rede do anonimato: indivíduos que perdem o sentido de pertença à família, ao grupo, à história, e parecem
avançar sem ter um nome próprio e sem reconhecer que existe um tu.

Vós, ainda que em um mosteiro, viveis neste mundo, onde se multiplicam os “não-lugares” e onde tudo concorre para estruturar a vida fora do tempo e sem sentido. As pessoas com freqüência giram sem consciência da própria identidade, pobres na comunicação com os outros com quem
estabelecem relacionamentos que se nutrem freqüentemente da superficialidade.

Vós, na estabilidade, refletis na historia a presença de Deus que dá sentido ao viver cotidiano. Sois um sinal importante na Igreja, na Família Franciscana e no mundo, porque neste tempo em que cada um reivindica os próprios direitos, ou vive em função de si próprio, vós continuais a narrar, através de suas relações fraternais, que é ainda possível apostar no amor.

Em um mundo que quer reduzir o individuo a um ser consumista, imerso nas leis do grande mercado, apostais no relacionamento autêntico, que se nutre do silêncio, da escuta, da espera, do perdão, da gratuidade, do dom, da entrega na fé, do respeito pela diversidade de papéis, de relações
que tem por objetivo fazer com que a pessoa cresça na liberdade, segundo a estatura de Cristo. Hoje, de fato, enquanto a mentalidade corrente é de andar na direção do nivelamento dos papéis, demonstrais como ser “esposa, mãe e irmã (19)” nas suas fraternidades, conjugando firmeza e doçura, autoridade e empatia, responsabilidade e liberdade, autonomia e confiança.

Acolhendo cada irmã como única e insubstituível, revelais ao mundo a obra-prima de Deus, que faz parte da obra da criação que vós salvaguardais. Amais a cada pessoa na sua integralidade, no nível biológico, psicológico e espiritual, iluminada pelo Espírito, e que não pode ser reduzida a uma única
dimensão.

Aos exemplos sempre mais presentes de intolerância, de desrespeito, de suspeita, de opressão, respondeis caminhando umas com as outras, e juntas como fraternidade, no coração dos homens e das mulheres do nosso tempo, em diálogo com todos aqueles que batem a sua porta. Vós nos ajudais a tornar-nos pessoas de escuta, a incentivar relações evangélicas, profundamente humanas; que buscam a acolhida de cada outra pessoa. É significativo para nós ver que nas coisas simples
buscais sempre mais a felicidades dos outros, desejam “ser” para o outro.(20)

Chegando na contemplação a um novo modo de ser mulher consagrada, aprendeis na escola do Espírito a conjugar a constante atenção a Deus e às irmãs. Percebemos em vós um contínuo caminho para libertar-se de toda forma de egoísmo. Não vos preocupais em estar, a todo custo, no
centro do universo: viveis segundo a economia do dom, segundo a espiritualidade da comunhão, sem quantificar o amor e sem pretender nenhuma coisa dos outros. O que vos caracteriza é a alegria doada na gratuidade aprendida da experiência do amor de Cristo.

Precisamos obter dos vossos “laboratórios” de cultura, que se fundamenta no Evangelho, um método que nos ajude a conjugar os valores éticos com os valores sociais, para poder viver radicalmente segundo o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó... de Jesus Cristo e sermos portadores do
Evangelho através de uma cultura de justiça e de paz.

Significativo é o cuidado que demonstrais para com a formação. Não permitis que essa seja somente uma simples instrução, mas objetivais um “saber ser”. Vós penetrais com inteligência emotiva naquilo que aprendeis e que retendes como significativo para a sua existência e para a existência
dos outros. Testemunhais no cotidiano, através da maturação humana que surge da conversão contínua, que é possível seguir Jesus como irmã pobre.

Vós representais para muitos um Oasis de paz, onde os homens e as mulheres podem se interrogar sobre o mistério que envolve e atravessa a vida. Sois chamadas a fazer acreditar que o desejo de Deus reside no mais íntimo de cada criatura e que Deus procura constantemente o homem e a
mulher, para estabelecer com cada um deles, na liberdade, um relacionamento fundado no amor.
Sabemos o quanto vós vos encarregais das preocupações do mundo e como continuais a interceder junto a Deus. Vendo-vos, nos recordamos que é necessário sonhar juntos para tornar visível um mundo evangélico.

Estamos convencidos de que o testemunho da “santa unidade” pede hoje uma reflexão sobre o relacionamento entre a Primeira e a Segunda Ordem. Não podemos ignorar que « um só e mesmo Espírito tinha tirado deste mundo tanto os frades como aquelas senhoras pobrezinhas (21) »
Que validade tem esta verdade em nossa vida? Estamos convencidos de que a santa « [...] unidade nos permite assumir, na diversidade das vocações, uma profunda plenitude das dimensões da Igreja, que o Concilio define perfeitamente fervorosa na ação e dedicada à contemplação [...] Se não é aceitável que o ramo feminino seja submetido ao masculino, mesmo assim a total separação não representa uma solução aceitável; pelo contrário, isso seria um dano tanto para os frades quanto para as irmãs. As nossas Ordens podem, ao invés disso, oferecer à Igreja e ao mundo o testemunho de uma sã e necessária complementaridade, vivida entre os dois ramos com uma atitude de grande e mútuo respeito, mas ao mesmo tempo, de comunhão e de recíproca ajuda, que seja imagem da
Igreja–comunhão (22)».

Talvez tenha chegado o momento de consolidar um relacionamento que saiba conjugar autonomia e reciprocidade. Estamos conscientes de que não é na substituição, nem na tutela que se vive o carisma da santa unidade, mas num comportamento de escuta recíproca, no respeito mútuo, na atitude contemplativa, para tornar visíveis as riquezas comuns e a diversidade que manifestam a beleza da própria especificidade e também credível o testemunho vivido em Deus, sem confusão nem dependência.

> O SENHOR VOS BENDIGA E VOS PROTEJA

Queremos sonhar convosco, para que Clara possa ver realizada a Regra na sua totalidade entre as suas filhas. Se a atualidade de Francisco e Clara estão sob o olhar de todos, é porque ainda hoje Deus continua a se comprometer conosco, e particularmente convosco, afim de que a inspiração originária que o Espírito confiou um dia aos nossos fundadores possa tomar forma hoje. Quem sabe qual incidência poderia ter ainda neste tempo o testemunho das Irmãs Pobres de Santa Clara sobre a Igreja e sobre o mundo!...

Com Francisco queremos renovar convosco o nosso compromisso: « Visto que por divina inspiração vos fizestes filhas e servas do altíssimo e sumo Rei, o Pai celeste, e desposastes o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do santo Evangelho, quero e prometo, por mim e por meus irmãos, ter sempre por vós diligente cuidado e especial solicitude, como tenho por eles.23». E juntamente com Clara, pedimos a vós de serem “sempre solícitas a observar tudo quanto prometeram ao Senhor. (24)”

Para o louvor de Cristo.

Fr. José Rodríguez Carballo,OFM
Ministro Geral

Fr. Mauro Jöhri, OFMcap
Ministro Geral
Fr. Marco Tasca, OFMconv
Ministro Geral

Fr. Michael Higgins, TOR
Ministro Geral

Roma, 02 de fevereiro de 2011
1 Bento XVI na 23ª Assembléia Geral da Fiuc, 19 de novembro de 2009.
2 RSC I, 2.
3 TestC 5
4 Cf. O Serviço da autoridade e a obediência 7
5 Cf. 3In 26.
6 Bento XVI, Audiência Geral, 27 janeiro 2010.
7 Cf. Jo 1,1.
8 1Jo 4,8.
9 UV
10 Bento XVI, Audiência Geral, 13 janeiro 2010.
11 Cf. Ex 3,7.
12 Frei Giacomo Bini, ofm Ministro geral, Observatório Romano, 1 fevereiro de 2003, pag. 6.
13 Cf. Vita consecrata 90.
14 Cf. Partir de Cristo 22.
15 Cf. Chiara d’Assisi e di oggi, fr. José Carballo, op. cit., p. 15- 16.
16 Cf. Bento XVI, Audiência Geral, 27 Janeiro 2010.
17 Cf. Perfectae caritatis 13.
18 Instrumentum Laboris IX Sinodo V. C. 1994 , 53.
19 1In 12.
20 Cf. Deus Caritas est 7.
21 2Cel 204.
22 Reciprocidade e complementariedade entre Frades Menores e Irmãs Clarissas, Relatório do
ministro geral Fr. Hermann Schalück ao l Congresso Internacional dos Assistentes das Federações
das Irmãs Franciscanas Contemplativas (3 setembro 1996).
23 RSC VI, 3-4.
24 BnC 16.

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